terça-feira, 16 de outubro de 2007

Sócrates é «de um cinismo atroz»

José Sócrates deu os parabéns aos portugueses por terem ajudado a estabelecer o défice orçamental em 3%. Mas há quem não concorde com os métodos que levaram o país a alcançar essa fasquia. Em entrevista ao PortugalDiário e ao Rádio Clube, na rubrica «Cadeira do Poder», Ilda Figueiredo lançou fortes ataques ao primeiro-ministro e aproveitou para lembrar que ainda existem muitos problemas por resolver.

«Eu diria que é de um cinismo atroz. Um país onde o desemprego cresce, onde a pobreza aumenta, onde há um abandono escolar precoce, só posso considerar uma insensibilidade completa considerar que foi um grande êxito alcançar os 3% de défice. É uma provocação ao povo», frisou, dando um exemplo:

«As empresas que estão estabelecidas no off-shore da Madeira só vão pagar 3% de IRC, o que é um escândalo. O problema não é o país não ter dinheiro. Não tem muito, mas tem algum e esse algum que tem vai sempre para os mesmos».

Apesar de faltarem dois anos para as eleições, a eurodeputada da CDU não tem dúvidas que o Governo irá cair: «José Sócrates há-de ser derrotável pelo povo português, até por muitos dos que votaram no Partido Socialista e que se sentem traídos. Quem vai beneficiar dessa derrota, vamos ver. A derrota é certa, o momento ainda não chegou, mas ainda há-de chegar».

«Tiques de autoritarismo»

Mas, há vida para além do défice, e as acusações não se ficam por aqui, com Ilda Figueiredo a reagir às acusações do primeiro-ministro. «Ele acha que é o Partido Comunista a atacá-lo sistematicamente, mas se fosse assim vencíamos as próximas eleições. Não é assim, há muita gente descontente com as suas políticas», frisou.

«São tiques de autoritarismo que nos fazem lembrar certas posições do passado, mas não vão amedrontar-nos, porque vamos continuar a lutar contra as injustiças», acrescentou, considerando que este tipo de políticas não termina aqui: «Existe um caminho perigoso, que a própria União Europeia está a tomar».

Algo que não deverá mudar nos últimos tempos, uma vez que considera que Luís Filipe Menezes é mais do mesmo. «O PSD tem dificuldade em se impor, porque as suas posições são semelhantes. É provável que Menezes e Sócrates surjam como opositores, procurando mostrar que são diferentes, mas apenas nos floreados, porque as semelhanças são mais do que muitas», considerou.

Uma última nota para o Tratado Europeu, que vai ser discutido durante esta semana, primeiro no Luxemburgo, depois em Lisboa. Ilda Figueiredo acha que ainda é possível mudar algo. «O Governo deve submeter o novo texto a um referendo nacional, tal como José Sócrates tinha prometido na campanha eleitoral», advogou.