"Traído de forma escandalosa", é assim que o fundador da Frente Nacional encara a suspensão do partido que fundou. Em entrevista à rádio francesa Europe 1, Jean-Marie Le Pen confessa desejar que a sua filha perca as eleições presidenciais de 2017: "Se tais princípios morais governassem o Estado francês, seria ultrajante".
A filha do fundador da Frente Nacional (FN) substituiu o pai na presidência do partido em 2011, depois de quase quatro décadas nas suas mãos e, este domingo, veio a público proibir Jean-Marie Le Pen de falar em nome do partido. O conselho executivo da organização de direita retirou na segunda-feira o estatuto de membro fundador do partido a Jean-Marie Le Pen.
Furioso, o deputado francês de 86 anos exige que a filha perca o seu apelido: "Tenho vergonha que a presidente da Frente Nacional use o meu nome e gostaria que o perdesse o mais cedo possível". Para Jean-Marie a solução parece óbvia: Marine deverá casar-se com o seu namorado e vice-presidente da FN, Louis Alliot, e ficar com o apelido deste: Marine Alliot. "Isso iria aliviar a minha consciência", confessa o político da extrema-direita, ainda na mesma entrevista.
Sentindo-se "traído", Jean-Marie Le Pen não tem palavras suficientemente fortes para expressar a sua cólera. Além de ter sido expulso do partido que fundou, poderá ainda perder o seu estatuto de "presidente honorário", cargo criado em 2011 de propósito para o "pai do partido".
A decisão final será tomada dentro de três meses numa assembleia geral extraordinária da FN, e Jean-Marie Le Pen não duvida que a maioria ficará do seu lado: "Os participantes vão ficar indignados com este crime ou, pelo menos, aqueles que têm um sentido de honra".
O mesmo não aconteceu com os executivos do conselho do partido, que suspenderam Le Pen por sete votos contra um. Para o político, eles não passam de "mercenários de uma assembleia de cortesãos, um pelotão de fuzilamento, como os Sete Magníficos", referindo-se ao grupo de mexicanos do filme norte-americano de John Struges que viviam aterrorizados pelo bandido Calvera.
"Se encontrarem o meu corpo, fiquem a saber que eu não cometi suicídio", acrescenta o fundador do partido, à gargalhada, em entrevista à radio francesa RMC, ao final do dia desta segunda-feira.
Em declarações à agência France Press, Jean-Marie promete não descansar enquanto não lhe forem devolvidas todas as quotas que pagou ao partido: "Entrei com mil euros, acho que é muito", avisando ainda os membros da Frente Nacional que, caso seja necessário, irá recorrer a todos os meios para reaver o dinheiro.
Quanto à sua voz, promete nunca calar-se: "Não poderei mais falar em nome da Frente Nacional visto que já não sou o seu presidente", mas falarei sempre "em nome de Jean-Marie Le Pen". (Expresso)