José Hermano Saraiva, Historiador faz hoje 90 anos
Correio da Manhã – Prestes a celebrar 90 anos e depois de divulgar a História de Portugal na televisão ao longo de décadas, quais são os próximos planos?
José Hermano Saraiva – Planeio continuar a fazer televisão. Isso é importante. Os meus programas têm a característica de pôr as pessoas a pensar, o que é algo que faz falta em Portugal. Um dos problemas é que se grita muito e se pensa muito pouco.
– Esse problema está a acentuar-se nos últimos anos?
– Não. Julgo que nas crises históricas que atravessámos houve sempre falta de pensadores de um lado e do outro, como sucedeu no tempo dos liberais e dos absolutistas. E a propaganda republicana não programou ou realizou nada. De um modo geral há uma falta de pensamento dramático. Como se vê neste momento com qualquer um dos líderes políticos.
– Absteve-se no domingo?
– Votar é um dever cívico num país civilizado. Não o fazer é desleixo e atraso. Embora quem vota o faz como quiser. Pode optar pelo voto nulo e descarregar o nome dos cadernos eleitorais.
– Presume-se que os projectos apresentados pelos partidos não o convenceram...
– Havia uma certa carência mental. Mas vamos esperar. Votou-se na continuidade, que tem as suas virtudes.
– A perda da maioria absoluta é um bom ou mau sinal?
– As condições objectivas impedem grandes progressos. As receitas nunca mais pararam de diminuir com o fim do Ultramar e das alfândegas enquanto as despesas continuam a aumentar. Ninguém pode esperar milagres e a culpa não é de nenhum governante em particular.
– Isso faz de Portugal um país inviável?
– Um país que é dificilmente viável.
– Tem medo do que o futuro vai reservar aos portugueses?
– Não faço ideia nenhuma. Em 1910 ou em 1920 também ninguém fazia ideia do que iria acontecer.
Eu acrescentaria que Portugal,enquanto estiver servida da actual classe política corrupta e tachista,Portugal continuará sempre a ser um país inviável ! Correio da Manhã