sábado, 3 de outubro de 2009

José Hermano Saraiva - “Portugal é um país que é dificilmente viável”

José Hermano Saraiva, Historiador faz hoje 90 anos
Correio da Manhã – Prestes a celebrar 90 anos e depois de divulgar a História de Portugal na televisão ao longo de décadas, quais são os próximos planos?

José Hermano Saraiva – Planeio continuar a fazer televisão. Isso é importante. Os meus programas têm a característica de pôr as pessoas a pensar, o que é algo que faz falta em Portugal. Um dos problemas é que se grita muito e se pensa muito pouco.

– Esse problema está a acentuar-se nos últimos anos?

– Não. Julgo que nas crises históricas que atravessámos houve sempre falta de pensadores de um lado e do outro, como sucedeu no tempo dos liberais e dos absolutistas. E a propaganda republicana não programou ou realizou nada. De um modo geral há uma falta de pensamento dramático. Como se vê neste momento com qualquer um dos líderes políticos.

– Absteve-se no domingo?

– Votar é um dever cívico num país civilizado. Não o fazer é desleixo e atraso. Embora quem vota o faz como quiser. Pode optar pelo voto nulo e descarregar o nome dos cadernos eleitorais.
– Presume-se que os projectos apresentados pelos partidos não o convenceram...

– Havia uma certa carência mental. Mas vamos esperar. Votou-se na continuidade, que tem as suas virtudes.

– A perda da maioria absoluta é um bom ou mau sinal?

– As condições objectivas impedem grandes progressos. As receitas nunca mais pararam de diminuir com o fim do Ultramar e das alfândegas enquanto as despesas continuam a aumentar. Ninguém pode esperar milagres e a culpa não é de nenhum governante em particular.

– Isso faz de Portugal um país inviável?

– Um país que é dificilmente viável.

– Tem medo do que o futuro vai reservar aos portugueses?

– Não faço ideia nenhuma. Em 1910 ou em 1920 também ninguém fazia ideia do que iria acontecer.

Eu acrescentaria que Portugal,enquanto estiver servida da actual classe política corrupta e tachista,Portugal continuará sempre a ser um país inviável ! Correio da Manhã