terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Romenas usavam B.I. portugueses falsos por 200 euros

Trabalhadores romenos de um hotel de luxo em Londres usavam bilhetes de identidade portugueses falsos comprados por cerca de 200 euros para contornar as restrições laborais, noticia a estação televisiva britânica BBC. Usando uma repórter polaca para trabalhar nas limpezas dos quartos do Kensington Close Hotel equipada com uma câmara escondida, a BBC descobriu que várias empregadas romenas estavam registadas como portuguesas. Uma delas disse que conhecia pelo menos 30 trabalhadoras ilegais e muitas delas tinham recorrido ao mesmo falsificador para obter bilhetes de identidade portugueses falsos. Cerca de 210 euros (190 libras) é quanto custa um bilhete de identidade português falso e um número de segurança social inglês, adiantou uma das trabalhadoras. Tudo o que é preciso é «uma fotografia, 190 libras e escrito num papel o nome que se quer», explicou, sem saber que estava a ser filmada.

Na reportagem, a BBC mostra cópias de pelo menos dois destes Bilhetes de Identidade, que são do modelo anterior ao Cartão do Cidadão. Num está assinado Barbosa na frente e não aparenta qualquer irregularidade. Mas no verso é possível ver vários erros na escrita das moradas e diferenças de impressão em relação aos documentos actuais. Num, alegadamente emitido pelo Governo Civil de Lisboa, está escrito «Rua Pedro Atvares», no Cacém, enquanto outro usa o endereço «Rua Vasco da Gamma», em Lisboa. A administração do hotel, propriedade de uma família com uma fortuna avaliada em mais de 170 milhões de euros, atribuiu a responsabilidade à agência a quem sub-contrata os trabalhadores. Mas a agência, a Central Hotel Services Ltd, alegou ter sido «vítima de uma fraude em que um pequeno número de romenos fingiram ser portugueses, franceses ou italianos e apresentaram documentos falsos para provar que estavam autorizados a trabalhar no Reino Unido».

Todavia, a BBC diz ter assistido, durante a investigação jornalística, a reuniões de pessoal realizadas na língua romena. A empresa diz estar agora a ser assistida pelas autoridades britânicas para aferir a veracidade dos documentos de todos os seus trabalhadores. Por seu lado, a agência britânica para as Fronteiras e Imigração afirmou que a questão em causa bem como os falsificadores estão sob investigação. Em declarações à agência Lusa, uma porta-voz desta organização alegou que não podem ser dados mais pormenores por a investigação estar em curso. «Nós somos bastante severos com as pessoas que abusam do nosso sistema e faremos tudo para as fazer prestar contas [à Justiça]», garantiu. Já a Central Hotel Services recusou a comentar o assunto à agência Lusa.

Esta não é a primeira vez que o uso de Bilhetes de Identidade portugueses falsos é denunciado pela imprensa britânica. Em 2005, o diário The Guardian referia o seu uso por trabalhadores brasileiros em pelo menos uma empresa de fornecimento de refeições. Antes, uma investigação levada a cabo pela ITV e pelo "Diário de Notícias" em 2004 já tinha exposto o uso de Bilhetes de Identidade falsos no Reino Unido. A agência para as Fronteiras e Imigração adiantou à Lusa que tem assistido recentemente ao aumento no número de pessoas que alega ter nacionalidade europeia para obter emprego. «Nos últimos oito meses foram acusadas mais de 500 pessoas por ofensas relacionadas com documentos de identificação», a maioria das quais foram presas ou deportadas para os seus países de origem, adiantou uma porta-voz. Todavia, não especifica quantos destes casos usavam documentos portugueses falsos.(Fonte)