A fábrica de confecções de Arcos de Valdevez, que uma trabalhadora comprou há quatro anos por um euro após uma tentativa frustrada de deslocalização, resiste à crise internacional e até já aumentou o número de operárias.
Segundo Conceição Pinhão - a trabalhadora que liderou a luta contra a deslocalização e conseguiu convencer os patrões alemães a venderem-lhe a fábrica por aquele preço simbólico - o segredo está no trabalho e na qualidade.
Em declarações à Lusa, Conceição Pinhão admitiu que, neste cenário de crise, o futuro "é sempre incerto".
Acrescentou, no entanto, que a fábrica que dirige desde 2005 não se pode queixar porque encomendas "não têm faltado".
"O ano passado é que foi um bocadinho pior, mas neste início de 2009 até estamos bastante bem", disse.
A fábrica conta actualmente com 99 trabalhadores, mais dez do que na altura da tentativa de deslocalização e da compra simbólica.
A "Afonso - Produção de Vestuário" funciona há 19 anos na Zona Industrial de Paçô, em Arcos de Valdevez, sendo a sua gestão assegurada por Conceição Pinhão desde 29 de Novembro de 2004, dia em que os patrões, dois empresários alemães, "desapareceram" depois de uma alegada tentativa frustrada de deslocalização.
"Nesse dia, e já fora do horário laboral, eles tentaram retirar do interior da fábrica tecidos e máquinas para levar tudo para a República Checa, deixando-nos de mãos a abanar, o que só não conseguiram devido à pronta oposição dos trabalhadores", disse na altura, à Lusa, Conceição Pinhão.
A partir desse dia, e para evitar "uma qualquer surpresa desagradável", os trabalhadores revezaram-se durante longos meses em vigílias nocturnas nas instalações da empresa, para que nada de lá fosse retirado.
A "Afonso" continuou a funcionar numa insólita situação de "sem dono" até que Conceição Pinhão conseguiu convencer os empresários alemães a vender-lhe a fábrica por um euro, num negócio oficializado em Janeiro de 2005.
Nesse mesmo ano, e já sob a gerência da trabalhadora/empresária, a fábrica fechou as contas com um volume de negócios de cerca de meio milhão de euros, um valor que em 2008 ascendeu a 800 mil euros.
A fábrica concentrou a sua atenção na produção de camisas exclusivamente para exportação, nomeadamente para Espanha, que absorve a grande maioria das peças, destinando-se as restantes ao mercado alemão.(Fonte)