quarta-feira, 24 de junho de 2015

Centro Cultural de Belém vai lembrar os feitos da Exposição do Mundo Português

A 23 de Junho de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, inaugurava-se, na zona de Belém, em Lisboa, a Exposição do Mundo Português, um misto entre divulgação da cultura nacional e propaganda do Estado Novo. Setenta e cinco anos depois, o Centro Cultural de Belém (CCB) vai organizar uma exposição sobre o evento, não sob o ponto de vista da ideologia política, mas com o objectivo de mostrar o nascimento do polo turístico cultural mais visitado do país. A inauguração está prevista para o outono, mas o local ainda não foi escolhido.

Até 1940, havia casas coladas ao Mosteiro dos Jerónimos. Onde é hoje a Praça do Império estavam também habitações velhas, com vista privilegiada sobre aquele que é hoje o monumento mais visitado de Portugal. Parece difícil imaginar mas, ao lado da Torre de Belém, monumento do século XVI aos Descobrimentos, havia uma fábrica de gás, que não só estragava a vista como danificava a construção, por causa do fumo “espesso, gorduroso e indelével”, como descreveu Ramalho Ortigão no final do século XIX.

“Nem os Jerónimos conseguiam dar dignidade a esta zona, que estava muito degradada”, disse esta terça-feira António Lamas, presidente do CCB, na apresentação da futura “Exposição do Mundo Português – Explicação de um Lugar” aos jornalistas.

A Exposição do Mundo Português foi concebida por Duarte Pacheco e António Ferro, a pedido do chefe do Governo, António de Oliveira Salazar, com o objectivo de comemorar as datas da Fundação (1143) e da Restauração (1640) de Portugal. Cottinelli Telmo era o arquitecto chefe. E apesar da queda embaraçosa da Nau Portugal à saída dos estaleiros de Aveiro, o evento acabaria por ficar também marcado pelo rearranjo urbanístico de Belém, que se prolonga até à actualidade. No final da exposição, muitos dos pavilhões projectados acabaram por ser demolidos. O Centro Cultural de Belém, por exemplo, é descendente do Pavilhão dos Portugueses no Mundo, um dos principais pavilhões de toda a exposição.

Mas há várias construções que se mantêm, como se poderá ver na exposição organizada pelo CCB, com curadoria de Margarida de Magalhães Ramalho e Margarida da Cunha Belém e design de Henrique Cayatte. É o caso do Museu de Arte Popular (herdeiro do Pavilhão da Etnografia Metropolitana), razão pela qual António Lamas gostaria de escolhê-lo para acolher a mostra. O pedido já foi feito à Direcção-Geral do Património Cultural e à Secretaria de Estado da Cultura.

O local e a data podem ainda não estar definidos, mas os núcleos da exposição já, ainda que as curadoras não tenham adiantado quais serão. Sabe-se que a mostra terá maquetes, esculturas, bilhetes da época, testemunhos gravados de pessoas que estiveram na exposição e várias imagens, provenientes de diversas instituições, fundações e colecções privadas. A família do arquitecto Santos Almeida Junior, por exemplo, abriu o espólio à organização, o que vai permitir mostrar cerca de 200 fotografias inéditas da época. (Observador)