terça-feira, 16 de junho de 2015

"A TAP vale mais do que Jorge Jesus"

Não é verdade que a TAP tenha sido vendida por “metade do Jorge Jesus”, por muito que Rui Paulo Figueiredo acredite que as pessoas também se vendem.

Não é verdade que o valor da proposta vencedora tenha sido de 10 milhões de euros. Não é verdade que essa proposta tenha sido americana e brasileira. O PS, que na oposição recusa agora a privatização que sempre quis e decidiu no ano 2000 a favor da Swissair e depois inscreveu em sucessivos PEC e no memorando de entendimento celebrado com a ‘troika', sabe disso. Mas faz de conta que não.

A proposta escolhida conta-se em 354 milhões de euros, podendo ascender a 488 milhões de euros até ao final de 2016, dependendo do desempenho da companhia aérea em 2015. Acrescem 1.092 milhões de euros de dívida e 500 milhões de euros de capitais próprios negativos. 10 milhões de euros representam somente a parcela respeitante às acções.

Quem venceu foi, a começar, um português - Humberto Pedrosa - detentor de 51 % da maioria do capital do consórcio Gateway, que partilha com David Neeleman, de nacionalidade americana e brasileira, para efeitos da compra de 61 % do capital da TAP.

E o Estado manterá na sua posse 39 % do capital restante, de que se valerá no uso do direito de veto, quando em causa estejam decisões tidas por estratégicas.

A privatização, num momento em que a TAP vive dificuldades, sem liquidez para quase tudo, desde a modernização da frota, às despesas de manutenção constitui, nessa medida, uma boa notícia. Significa dinheiro fresco e a solvabilidade futura, num projecto de quem conhece o sector e garantirá Portugal como centro estratégico e as rotas para África e América como fundamentais.

Espantosa é, por isso, a ameaça concretizada por António Costa de que reverterá essa privatização, caso vença eleições legislativas. Demonstra ostensivamente a irresponsabilidade de que este PS é feito.

António Costa sabe que o mercado dos transportes aéreos se alterou radicalmente nos últimos anos. As regras europeias que impedem ajudas estatais e a concorrência de empresas de baixo custo que cumprem horários e representam alternativas reais, determinaram o fim da maior parte das empresas detidas exclusivamente pelos Estados. Não existirá provavelmente neste momento, na Europa, nenhuma companhia de transportes aéreos pública. Depois, para além da desconfiança e perturbação que cria nos mercados, não antecipa uma ideia que seja, acerca de como resolverá o problema dos muitos milhões de dívida e capitais negativos da TAP, perpetuando a inviabilidade de uma agonia, que só poderia ter como alternativa à intervenção do PS, o encerramento da companhia.

O tempo em que os problemas se resolviam atirando para cima dinheiro dos contribuintes, acabou. Por muito socialista que seja, António Costa terá de entender isso um dia. (Nuno Melo/Económico)